quarta-feira, janeiro 23, 2008

Poeminha para uma cidadezona

Ê, Brasília
Ovo de codorna
Cidadezinha
Terra de ninguém
Cidadona
Filhos da mãe
Cidadezona

Um deserto
Do mar longe
Do céu perto

Ê, Brasília
Singular e plural
Capital e interior
Letrada, iletrada
Passado, futuro
Mato e concreto
Poder sem pudor
Ódio e amor

Brasília
- Ame-a ou deixe-a

Ê, Brasília
Palácios e miséria
Sol e chuva
Luxo e lixo

Tudo perto
Tudo longe

Ê, Brasília
Gente, tanta gente
Goiano, catarinense, baiano
Argentino, canadense, palestino
Oriente, Ocidente
Gente de toda parte
Brasília é arte
É verso e prosa
É verbo e verba

Eita Brasília
De curvas e retas
De quadras e quadros
De eixos e blocos
De siglas e números

Aqui motorista pára na faixa
- Na passarela a cidadania
Aqui ninguém dá boa noite
Nem boa tarde, nem bom dia.
- Brasília é uma cidade fria

Aqui ninguém buzina
Aqui não tem esquina
Não tem menina na janela
Não tem bairro, não tem rua

- Brasília é uma cidade nua

Numa casa chove
Na outra faz sol
Numa hora faz frio
Na outra faz calor

- E a chuva que não vem!
- E essa chuva que não pára!

Brasília
Avião que não voa
Tesoura que não corta
Balão que não sobe
Pardal que não canta

Sexo, droga, rock'n'roll

Ê, Brasília
Um céu que é mar
Coração do Brasil
Provinciana, cosmopolita
Cartesiana, bonita
Traço do arquiteto
Obra de sonhador
Estética futurista
Concretista
Pós-modernista

Brasília
Linda até no nome
Palavra feminina
Brasília é Brasil no feminino
Cidade com nome de mulher
Corpo de avião
Asas para voar

Ê, Brasília!


Autor: Marcelo Torres, jornalista, baiano, radicado em Brasília