segunda-feira, março 01, 2010

Nossas amizades

Este é um texto do blog de uma amiga, como ela mesma diz, minha amiga mais antiga, sobre nossa infância sobre as árvores:

Nossas árvores

Quando estávamos lá em cima, o tempo passava despercebido. Eram três as nossas árvores favoritas. Todas enormes e frondosas. Uma atrás da casa dos meus pais, de folhas enormes e duras (é uma árvore que tem uns cipós e uma raiz alta que vai longe). As outras, eram dois Flamboyants. A da casa da minha mãe, foi cortada para ceder espaço ao comércio. A TV Globo foi acionada e os adolescentes da quadra (que brincaram nela na infância) fizeram uma roda ao redor dela, um chororô danado pra não cortarem. Em vão. Claro que cortaram. As outras duas vivem até hoje e ficam no canteiro entre duas ruas, também na 716 norte. Quando eu morei num prédio lá perto, depois que minha filha nasceu, eu passava por elas quando ia pra casa da minha mãe. Olhava a minha preferida e a admirava. Mentalmente lhe cumprimentava, íntima. Adoro aquela árvore. Ela é boa de subir. E naquela época essas árvores tinham uma parte baixa, no tronco, perfeita pra apoiar o pé e pegar embalo na subida. Já eram enormes. Hoje são gigantes. Alternávamos entre as três árvores. Eram nossos points da tarde, depois da escola. Era batata. Eu chegava da aula almoçava e ligava pra Cecília, minha vizinha, amiga mais antiga, amizade que dura até hoje. “Ciça to indo pra árvore tal”. Em minutos ela chegava. Minha irmã mais nova, Vânia, também era freqüentadora assídua, íamos juntas. Muitas vezes eu levava meus cadernos e fazia o dever lá em cima. As vezes brincávamos de casinha, cada uma morando numa, ou as três numa só, cada galho um quarto. A Flamboyant tem aquela vagem grande marrom onde ficam as sementes. Eram nossos telefones. O formato perfeito. Outras vezes ficávamos lá, sentadas à toa. Tardes e tardes. Pegando um ventinho, batendo papo. Cada uma de nós tinha seus galhos preferidos. Às vezes subíamos até quase o topo, bem alto. E sabe que a gente nem tinha medo. Para nós, era como se elas falassem: “Fiquem tranqüilas meninas, que daqui vocês não caem”. E nunca nenhuma de nós três caiu, nem pensávamos nisso. Nossos pés pareciam ficar aderentes aos galhos. Eram largos e com uma textura boa de pisar. Ao redor sempre tinham galhos finos que a gente ia se segurando. Bom demais. Era aquela sensação de esquecer do mundo. Elas nos davam muito bem estar aquelas árvores. As vezes passava um menino ou outro da nossa idade, da rua mesmo, nossos amigos da quadra. E subia um ou mais e a árvore ficava lotada, com a molecada em peso. Fim de semana, na hora do almoço a gente subia até com o prato na mão, na que ficava no jardim da minha mãe. Almocei em cima dela várias vezes. Hoje o jardim é pequeno. Foi divido pela metade. A área onde tinha nossa árvore era pública e lá agora existe um asfalto e comércio. Minha filha as vezes sobe em um pé de tangerina no jardim da vó. E se pendura no galho. Mas não é igual a subir numa árvore frondosa, grandona, imponente. Quando eu saio de carro com meu marido dirigindo, vou olhando as árvores nas ruas. E analisando mentalmente com olho crítico: “Essa é boa de subir. Essa não. Nossa, essa é ótima”.

Gostaria que Helena subisse em uma destas. Mas hoje tudo está diferente. O Flamboyant não dá mais pra subir. Ficou gigantesco, o tronco reto, liso e muito alto. Não tem mais apoio. Mas a ainda é uma árvore maravilhosa, acolhedora, aconchegante, refresca os passarinhos e quem passa por ali. Na minha casa nova eu plantei ipê, jaboticaba, limão, laranja e manga. Mas o Giordano, um amigo otimista já me desanimou. “Quando a Helena tiver adolescente, vai poder subir numa delas. Ou talvez seus netos”.

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